(...)
Colocou
a garrafa no chão com aquele olhar louco. Suspirei aliviado. Fui até
lá, destampei a garrafa, e enchi meu copo; depois fiz o mesmo com o seu.
Voltei para a minha poltrona e me sentei. Sentia-me estranhamente bem.
— Agora quero que levante sua saia um pouco mais, sua puta.
Fiquei surpreso quando ela o fez. A saia estava agora duas polegadas acima de seu joelho.
— Agora me dá mais uma polegada. Nada mais do que isso.
Ela o fez.
Levantei-me
e fiquei à sua frente. Cada curva e reentrância de seu corpo era
estupendo. Eu morria de tesão. Seus sapatos reluziam.
— Torça seu tornozelo. Erga a perna um pouco, meu bem.
Lisa obedeceu.
— Agora pare aí! — ela parou.
— Agora quero mais uma polegada, vamos!
Lisa levantou a sai mais um pouco.
— AAH!, assim, assim está bem!
Virei
um bicho sedento, ajoelhei-me e acariciei suas pernas, enfiei a mão por
entre as coxas e desci até os joelho. Ela me olhou maliciosamente:
Você é um estúpido fudido. Um maluco.
Peguei seu pé e beijei seu sapato de salto alto. Em seguida fui subindo até o tornozelo.
— Você não é um assassino, é? — ela perguntou.
—
Uma de minhas amigas foi amarrada por um cara aos pés de sua cama e o
viado a esfaqueou. O cara ia retalhar ela todinha, mas ela gritou tão
alto que os “ratos” ouviram e a salvaram. Você não é...
— Cala a boca!
Levantei e coloquei o pau para fora. Cuspi na palma da mão e comecei a massageá-lo.
— Você é uma puta fudida! —
Eu disse.
Continuei a me esfregar com naturalidade. Não tinha nada a perder.
— Outra polegada, mostre-me outra polegada!
Continuei esfregando.
— Mais, mostre-me mais, mais!
Era o segredo e o truque e a penetração. A amplitude dos sentidos.
— Ahhh, meu Deus, consegui!
A
substância branca e pastosa jorrou; era o alívio de anos de frustração e
solidão. À medida que eu expelia aquela gosma branca sobre suas pernas
de nylon, parecia sentir em cada gota a angústia dos excluídos, dos
esquecidos e do triste ser que eu era.
Ela berrou e deu um pulo.
— Seu porco! Seu porco fudido, idiota!
Lisa
correu até o banheiro. Peguei a ponta de minha camisa e me limpei com
ela. Voltei para a poltrona, enchi um copo e acendi um cigarro. As coisa
pareciam ter algum sentido agora.
Lisa voltou do banheiro,
sentou-se e se serviu de um copo. Acendeu um cigarro, e deu um trago
profundo nele. Soltou a fumaça devagar. Sua voz sobressaiu-se por detrás
da nuvem branca.
— Seu pobre miserável fudido!
— Eu te amo, sua puta! — Eu disse.
Ela virou o rosto para a parede.
Mal eu sabia que era o começo dos dois anos mais miseráveis e fortalecedores de minha vida.
— Esta é a única bebida que tem aí para oferecer? Este vinho fudido e barato?
—
Não é tão ruim assim, Lisa. O que eu faço quando bebo é pensar em algo
bem agradável como cachoeiras, ou uma conta bancária de quinhentos
dólares. Ou as vezes eu imagino que estou num castelo com um fosso em
volta. Ou ainda, finjo ser o dono de uma casa de bebidas finas.
— Você é louco, cara! — Ela disse.
E estava absolutamente certa.
trecho de Um Conto de Charles Bukowski