“É o papel de Fred, inconscientemente, envenenar minha felicidade. Ele  
enfatiza as incongruências do amor de Henry. Eu não mereço um amor pela 
 metade, diz ele. Mereço coisas extraordinárias. Mas o meio amor de 
Henry  vale mais para mim do que todos os amores de mil homens.
Imaginei
  por um momento um mundo sem Henry. E jurei que no dia que perder 
Henry,  eu matarei minha vulnerabilidade, minha capacidade para o 
verdadeiro  amor, meus sentimentos, com a devassidão mais frenética. 
Depois de Henry  não quero mais amor. Só foder, por um lado, e solidão e
 trabalho, por  outro. Nada mais de mágoa.
Depois de não ver Henry 
por cinco dias por  causa de mil obrigações, não pude suportar. Pedi a 
ele para se  encontrar comigo durante uma hora entre dois compromissos. 
Conversamos  por um momento, então fomos para um quarto do hotel mais 
próximo. Que  necessidade profunda dele. Só quando estou em seus braços 
as coisas  parecem direitas. Depois de uma hora com ele, pude continuar o
 meu dia,  fazendo coisas que não quero fazer, vendo pessoas que não me 
interessam.  Um quarto de hotel, para mim, tem a implicação de 
voluptuosidade,  furtiva, fugaz. Talvez o fato de não ver Henry tenha 
aumentado a minha  fome. Eu me masturbo frequentemente, com luxúria, sem
 remorso ou  repugnância. Pela primeira vez eu sei o que é comer. Ganhei
 dois quilos.  Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá 
um prazer  duradouro. Nunca comi desta maneira profunda e carnal. Só 
tenho três  desejos agora: comer, dormir e foder. Os cabarés me excitam.
 Quero ouvir  música rouca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber um 
Benedictine  ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos
 em mim.  Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, 
ser íntima  delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero morder a vida
 e ser  despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o 
seu amor.  Maldito seja o seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu 
quero mais  que isso.
Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno.
Selvagem,  selvagem, selvagem”.
(Anaïs Nin)
