(...)
As três sentaram-se no divã bem baixo, sobre um ondulante mar de almofadas. A primeira a agir foi Leila, que deslizou a mão chão de jóias por baixo das saias de Bijou e arfou levemente de surpresa com o inesperado toque de pele onde esperava encontrar roupa íntima sedosa. Bijou deitou-se de costas e voltou a boca para Elena, seu vigor tentado pela fragilidade de Elena, vendo pela primeira vez como era se sentir um homem e sentir a fragilidade de uma mulher curvando-se sob o peso de uma boca, a pequena cabeça abaixada para trás por suas mãos pesadas, o cabelo leve esvoaçando ao redor. As mãos fortes de Bijou circundaram deleitadas o pescoço delicioso. Ela segurou a cabeça entre as mãos como uma taça, para beber da boca longos goles do hálito de néctar, com a língua ondulando.
Leila teve um momento de ciúme. Cada carícia que dava a Bijou, Bijou transmitia a Elena — a mesmíssima carícia. Depois de Leila beijar a boca luxuriante de Bijou, Bijou tomou os lábios de Elena entre os seus. Quando a mão de Leila deslizou adiante por baixo do vestido de Bijou, Bijou deslizou a mão sob o vestido de Elena. Elena não se mexeu, enchendo-se de languidez. Então Leila deslizou sobre os joelhos e usou as duas mãos para afagar Bijou. Quando levantou o vestido de Bijou, Bijou atirou o corpo para trás e fechou os olhos para sentir melhor os movimentos das mãos cálidas e incisivas. Elena, vendo Bijou oferecida, ousou tocar o corpo voluptuoso e seguir cada contorno das curvas fartas — um leito de carne prostrada, suave e firme, sem ossos, cheirando a sândalo e almíscar. Os mamilos de Elena endureceram quando ela tocou os seios de Bijou. Quando sua mão passou pelas nádegas, de Bijou, encontrou a mão de Leila.
Então Leila começou a se despir, expondo um pequeno corselete de cetim negro e macio que prendia as meias com minúsculas ligas negras. As coxas esguias e brancas fulguravam, o sexo permanecia na obscuridade. Elena soltou as ligas para observar as pernas polidas emergirem. Bijou puxou seu vestido por cima da cabeça e então reclinou-se para a frente para terminar de tirá-lo; ao fazer isso, expôs as nádegas por completo, as covinhas na base da espinha, o arco das costas. Então Elena deslizou para fora de seu vestido. Estava usando roupas íntimas de renda negra com as fendas na frente e atrás, exibindo apenas as laterais sombreadas de seus segredos sexuais.
Sob os pés delas havia uma grande pele branca. Caíram sobre esta, os três corpos em harmonia, mexendo-se um contra o outro para sentir seio contra seio e barriga contra barriga. Deixaram de ser três corpos. Transformaram-se todos em bocas, dedos, línguas e sensações. As bocas procuravam uma outra boca, um mamilo, um clitóris. Acomodaram-se entrelaçadas, movendo-se muito lentamente. Beijaram-se até os beijos tornarem-se uma tortura, e o corpo ficar inquieto. As mãos o tempo em busca da carne submissa, de uma abertura. A pele sobre a qual se acomodavam exalavam um odor animal, que se misturava aos odores do sexo.
Elena foi em busca do corpo mais abundante de Bijou. Leila era mais agressiva. Colocou Bijou deitada de lado, com uma perna jogada por cima de seu ombro, e a beijava entre as pernas. De vez em quando Bijou contorcia-se para trás, para longe dos beijos e mordidas lancinantes, da língua dura como o sexo de um homem.
Ao se mover desse jeito, suas nádegas eram lançadas em cheio contra o rosto de Elena. Com as mãos, Elena estivera desfrutando do formato das nádegas; agora inseriu o dedo na pequena abertura apertada. Ali podia sentir cada contração provocada pelos beijos de Leila, como se estivesse tocando a parede contra a qual Leila movia a língua. Bijou, recuando da língua que a alcançava, movia-se na direção de um dedo que lhe deleitava. O prazer era expresso em melodiosas modulações de voz e, de vez em quando, como uma selvagem sendo escarnecida, cerrava os dentes e tentava morder aquela que estava tentalizando.
Quando estava prestes a gozar e não podia mais se defender do prazer, Leila parou de beijá-la, deixando a meio caminho do ápice de uma sensação excruciante, semi-enlouquecida. Elena havia parado no mesmo momento.
Incontrolável agora, como uma maníaca de primeira grandeza, Bijou atirou-se em cima do corpo de Elena, abriu suas pernas, colocou-se entre elas, colou-se ao sexo de Elena e se mexeu, mexeu-se desesperadamente. Arremeteu contra Elena como um homem para sentir os dois sexos se encontrando, se soldando. Então, ao sentir o prazer chegando, deteve-se para prolongá-lo, caiu de costas e abriu a boca para o seio de Leila, para mamilos incandescentes em busca de carícias.
Elena agora também estava no frenesi que precede o orgasmo. Sentiu uma mão embaixo de si, uma mão contra a qual podia se roçar. Quis atirar-se sobre a mão até que esta a fizesse gozar, mas também queria prolongar o prazer. E parou de se mexer. A mão perseguiu-a. Ela levantou-se, e a mão novamente dirigiu-se a seu sexo. Então ela viu Bijou postada contra as suas costas, ofegante. Sentiu os seios pontudos, o roçar dos pêlos púbicos de Bijou contra as suas nádegas. Bijou esfregou-se contra ela, e então deslizou para cima e para baixo, lentamente, sabendo que a fricção forçaria Elena a se virar para, desse modo sentir o atrito nos seios, sexo e barriga. Mãos, por todos os lados de uma só vez. As unhas pontudas de Leila enterraram-se na parte mais tenra do ombro de Elena, entre o seio e a axila, doendo, uma dor deliciosa, a tigresa apoderando-se dela, estraçalhando-a. O corpo de Elena ardia de modo tão abrasador que ela temeu que mais um toque detonasse a explosão. Leila sentiu isso, e elas se separaram.
Todas as três caíram sobre o divã. Pararam de se tocar e olharam uma para a outra, admirando a desordem e vendo a umidade cintilar ao longo das lindas pernas.
Mas não conseguiram manter as mãos longe uma das outras, e agora Elena e Leila atacaram Bijou juntas, decididas a arrancar dela a sensação máxima. Bijou foi cercada, envolvida, coberta, lambida, beijada, mordida, rolada novamente para cima do tapete de pele, atormentada por um milhão de mãos e línguas. Agora implorava para ser satisfeita, escancarou as pernas, tentou satisfazer a si mesma pela fricção contra os outros corpos. Elas não deixaram. Vasculharam-na com línguas e dedos, por trás e pela frente, parando as vezes para tocar a língua uma da outra — Elena e Leila, boca com boca, línguas enroscadas juntas, por cima das pernas de Bijou. Bijou erguia-se para receber o beijo que poria fim a seu suspense. Elena e Leila, esquecendo-se dela, concentram todas as sensações em suas línguas, golpeando uma à outra. Impaciente, loucamente inflamada, Bijou começou a se acariciar; então Leila e Elena empurraram sua mão para longe e caíram sobre ela. O orgasmo de Bijou veio como um tormento requintado. A cada espasmo ela se mexia como se estivesse levando uma facada. Quase gritou para que aquilo acabasse.
Sobre o corpo de bruços, Elena e Leila retomaram os beijos de língua de novo, as mãos embriagadas esquadrinhando uma a outra, penetrando em todos os lugares arrebatadamente, até Elena gritar. Os dedos de Leila haviam descoberto o ritmo dela, e Elena agarrou-se a Leila esperando prazer e romper, enquanto suas mãos tentavam dar o mesmo prazer a Leila. Tentaram gozar em sincronia, mas Elena gozou primeiro, caindo amontoada, desprendida da mão de Leila, derrubada pela violência do orgasmo. Leila caiu ao seu lado, oferecendo o sexo à boca de Elena. Quando o prazer de Elena arrefeceu, revolvendo-se embora, desvanecendo-se, ela concedeu a língua a Leila, golpeando na abertura do sexo até Leila se contrair e gemer. Ela mordeu a carne tenra de Leila. No paroxismo do prazer, Leila não sentiu os dentes cravados ali.
(...)
trecho de Delta de Venus, Anais Nin
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