sábado, 22 de março de 2008

Delta de Vénus 08, - trecho de


- Que crueldade - disse ele. - Já não te dás a mim?

Ela nada dizia. Também ela sofria pelo facto de a dúvida e a angústia terem impedido o seu corpo de responder à posse que desejava. E desejava-a, mesmo que fosse a derradeira vez. Mas como temia, precisamente que o fosse, o seu corpo fechava-se e ela não conseguia unir-se verdadeiramente a Pierre. E sem esse prazer partilhado não havia fusão, não havia comunhão entre os seus corpos. Sabia que isso a ía atormentar depois. Sentir-se ía insatisfeita, ao passo que ele teria deixado nela a sua marca.
Revivia a cena no seu espírito, via-o inclinado sobre ela, via as suas pernas entrelaçadas, via o pénis a penetrá-la, cada vez com mais força, via-o enfim caír, uma vez chegado ao fim; e então sentia outra vez desejo de ser satisfeita, de sentir Pierre possuí-la inteiramente até ao amago. Conhecia bem os tormentos do desejo insaciado: os nervos à flor da pele, o sangue a escaldar, o corpo todo na espectativa do orgasmo que não viera. Impossível dormir. Tinha cãibras nas pernas, agitava-se como um puro sangue nervoso. Fantasmas eróticos perseguiam-na durante toda a noite.

- No que estás a pensar? - Perguntou Pierre, fixando-a.

- Em como é triste deixar-te, sem me ter dado a ti verdadeiramente.


Anaïs Nin

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