segunda-feira, 30 de junho de 2008

Passion






Tinha acabado de me levantar, quando a Louise transpôs a porta de cabelo apanhado ao alto com um travessão de tartaruga.

Sentia-lhe o cheiro do vapor do banho das fortes essências. Essências silvestres do sabonete.

Estendeu os braços, ofereceu-me ternamente a face.

Levei-lhe as duas mãos à boca e beijei-as lentamente. Memorizando assim, a forma dos nós de seus dedos.
Eu não só desejava a carne de Louise como também os seus ossos, o seu sangue, os seus tecidos, os tendões que a mantém unida.

Eu tê-la-ia segurado junto a mim, apesar de o tempo lhe desgastar os tons e atextura da pele.
Podia tê-la segurado mil anos. Até o próprio esqueleto ficar reduzido a pó.
Que tens tú que me fazes sentir assim? Quem és tú que o tempo não tem sentido para ti?

No calor das suas mãos pensei: É a fogueira que torça o Sol. Esse lugar há de aquecer e me alimentar, de cuidar de mim, agarrar-me.

Esse pulsar contra outros ritmos.

O mundo subirá e vazará com a maré do dia, mas aqui está a sua mão com o meu futuro na sua palma.

Ela disse: Vem pra cima.




Jeanette Winterson

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