sexta-feira, 23 de maio de 2008
A mulher nua, fragmento 01
(...)
"Naturalmente que, embora tivesse entrado pela porta grande do sexo, não me privei da iniciação sexual clássica. Entrei nos circulos eróticos mais convencionais e próprios da minha idade, pois eram os únicos que estavam ao meu alcance. Assim, brinquei aos médicos com os meus companheiros de colégio. Olhei e toquei montes de entrepernas e deixei tocar e olhar a minha. Mas os pénis dos meninos da minha turma eram minhocas brincalhonas e flácidas, como dedos mendinhos sem osso, que não reagiam às minhas mensagens, que não se inchavam e que nunca cresciam ou se endureciam como o de Damián ou o do meu pai. Como explicar-lhes que eu tinha brincado aos médicos com um cirurgião a sério, que não só exercia medicina como tinha um diploma de especialista naquele jogo? (...)
À parte os frustrantes encontros com aqueles aprendizes de médico, e a contemplação das rachitas das minhas amigas, que eram como a minha, mais ou menos, aos doze anos assisti à revelação máxima, ao último degrau da escala do sexo. Finalmente vim a saber que o brinquedo de Damián tinha outras vias de exploração que eu não descobrira naquela tarde.
Nicolás, filho de um espanhol e de uma norueguesa, um dia trouxe de casa uma revista estrangeira cheia de imagens. Mostrou-nos no recreio, escondidos atrás de um monte de terra onde um enorme tubo de esgoto morria à intempérie.
Na realidade, era uma historieta sem palavras e todos os protagonistas tinham o cabelo tão louro que parecia branco. Na primeira página, um fulano vestido de cardeal encontrava-se rodeado de mulheres vestidas de freiras com hábitos vermelhos, todos em posição de orar. Na seguinte, as mulheres desabotoavam a interminável sotaina e punham ao léu a nudez do homem, que não vestia nada por baixo e tinha a pichota tesa. Na outra a seguir, despiam-se elas. Depois chupavam-lhe o caralho várias ao mesmo tempo e ele agarrava-lhes as mamas apertando-as com força. Depois ele aparecia com o caralho dentro da cona de uma delas, em vários planos. Mais adiante, um plano do caralho a entrar dentro de outro buraco de uma freira, que deduzimos que era um cu porque se via a cona aberta ao lado.
E finalmente podia-se ver o famoso jorro branco a sair do caralho, petrificado na foto e a cair em cima da cara de uma das freiras, que tinha uma expressão muito alegre, surpreendida e faminta, enquanto abria a boca como uma caixa de correio e esticava uma língua de serpente.
Aquela visão foi forte de mais para nós e voltámos para a aula cabisbaixos quando o recreio acabou, com o cérebro cheio de sémen e vergas e conas e mamas e cus, incapazes de assimilar o autêntico significado do conteúdo da revista.
Mas Damián não voltou, e eu cresci e desenvolvi-me. Cresceram-me as mamas, veio-me o período, cresceram-me os pêlos no púbis, rebentaram-me borbulhas na cara e a sensualidade chegou-me às golfadas. Os beijos, até então autómatos, converteram-se na antessala de um desejo que não se extinguia com a mera exploração de centenas de bocas. O meu corpo ansiava por mais. Ansiava tudo o que um homem pode dar a uma mulher. E prestes a fazer catorze anos eu era uma fogueira que nunca se apagava, que ardia inutilmente vinte e quatro horas por dia. (...)
Aos dezasseis anos eu já tinha experimentado todas as possibilidades que uma discoteca oferece, a marmelada nos cinemas, lugar este, por exemplo, onde fui aperfeiçoando a técnica da masturbação masculina. (...) Naquele momento, eu com a lascívia de uma cortesã, vestida de piloto de corridas prestes a atingir a meta, agarrava a embraiagem de carne, desorbitada e pisada até à morte, e dava ao dono o que merecia, malhando-lha como uma deusa. Era o que me diziam, malhas-me como uma deusa, Martina. Na verdade era uma verdadeira artista punheteira. E a razão é simples. Agradava-me. Desfrutava agarrando naquele berbequim e submetendo-o às minhas ordens. Fazia-os sofrer subindo e descendo a pele congestionada com a habilidade de uma especialista em amassar pão caseiro.
Punha-os à beira do orgasmo à base de uma cuidada e excitante combinação de extrema suavidade e apertões selvagens, retardava a ejaculação e voltava a estimular o membro até que finalmente explodia a transbordar de leite contido, entre estertores e espasmos que pareciam nunca mais acabar, tanta loucura investiam na esporradela, tanta energia musculosa e alegre, desinibida, adolescente e travessa. Depois vinha a parte difícil da limpeza, mas, antes, um imperioso instinto levava-os a beijar-me os lábios com doçura enjoativa, com o agradecimento de um animal malferido a quem se tira a farpa espetada na pata. E esse beijo, sincero, sabia-me a sémen apaixonado. Era a minha recompensa. Um novo beijo para a minha arca do tesouro, para guardar com avareza no tambor do meu coração transformado em revolver.
(...)
Lola Beccaria
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