terça-feira, 4 de agosto de 2009

Henry & June

Sexus Anaïs
"[...]

Quando viu que eu compreendia June e estava pronta a ser sincera com ele, conversamos livremente. Mas por um momento eu parei, hesitante, questionando minha infidelidade para com June. Então Henry comentou que embora a verdade, no caso de June, tivesse que ser posta de lado, seria a única base de qualquer relacionamento entre nós.

Nós dois sentimos a necessidade de aliar nossas mentes, nossas lógicas diferentes para compreender o problema de June. Henry a ama e sempre a ela. [...] Em seu amor por ela, ele tem superado tantos tormentos que o amante se refugiou no escritor. Ele escreveu um feroz e deslumbrante livro sobre June e Jean.

Ele questionava o lesbianismo. Quando me ouviu dizer certas coisas que ouvira June dizer, ficou surpreso, porque acredita em mim. Eu disse:

— Afinal de contas, se existe uma explicação do mistério é esta: o amor entre mulheres é um refúgio e uma fuga para a harmonia. No amor entre homem e mulher existe resistência e conflito. Duas mulheres não se julgam, não se violentam, nem encontram algo para ridicularizar. Elas se entregam ao sentimento, à compreensão mútua, ao romantismo. Tal amor é a morte, admito.

[...]

O verdadeiro nome dele é Heinrich — como prefiro. Ele é alemão. Para mim parece um eslavo, mas tem o sentimentalismo e o romantismo alemães em relação a mulheres. O sexo é amor para ele. Sua imaginação mórbida é alemã. Ele tem amor pela feiúra. Não se importa com cheiro de urina nem de repolho. Adora xingamentos, gírias, prostitutas, lugares freqüentados por gangsteres, sordidez, dureza.

[...]

As cartas de Henry me dão a sensação de plenitude que tenho tão raramente. Sinto enorme prazer em respondê-las, mas a quantidade delas se sobrepuja. Mal terminei de responder uma e ele já escreve outra. [...] Ação demais para a minha mente. [...]"


Anaïs Nin. Henry & June, diários não expurgados de Anaïs Nin (1931-1932).
Porto Alegre, L&PM Editores, 2007, pp. 38, 46-47

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