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(...)
- Pelo amor de Deus, não diga isso, (...) Não quero reconhecimento... o que quero é compreensão, não sei o que quero de você, ou de qualquer outra pessoa, na verdade. Quero mais do que recebo, é tudo que sei.
Quero que você saia para fora da sua pele. Quero que todo mundo se dispa, não apenas até a pele, mas até a alma. Às vezes fico tão faminto, tão voraz, que seria capaz de comer as pessoas. Mal posso esperar que me digam as coisas... como sentem... o que querem... e assim por diante.
Quero mastigá-las vivas... descobrir por mim mesmo... rápido, imediatamente. Escute aqui: apanhei um desenho (...) que estava sobre a mesa. Está vendo isso? Suponhamos que eu o comesse - comecei a mastigar o papel.
- Por Deus, Henry, não faça isso! Ele vem trabalhando nisso nos últimos três dias. É uma encomenda - Arrancou-me o desenho da mão.
- Está bem, disse eu. Me dê outra coisa, então. Me dê um casaco... qualquer coisa. Venha cá, me dê sua mão. - Fiz uma tentativa de alcançar sua mão e levá-la até a boca. Ele a puxou violentamente.
- Você está ficando doido - disse ele. Ouça, controle-se. As garotas logo estarão de volta e então, você poderá comer comida de verdade.
- Como qualquer coisa. Não estou com fome, disse eu, estou exaltado. Só quero lhe mostrar como me sinto.
Você nunca fica assim?
- Certamente que não! - disse ele, mostrando um canino. Por Deus, se chegasse a esse ponto iria consultar um médico. Acharia que estava com delirium tremens ou algo do gênero. É melhor você deixar o copo descansar... o gim não está lhe fazendo bem.
- Acha que é o gim? Está bem, vou jogá-lo fora. - Fui à janela e joguei a bebida fora, na área.
- Pronto, agora me dê um copo d´água. Traga um jarro d´água. Vou lhe mostrar... Nunca viu ninguém ficar bêbado com água, hein? Pois bem, me observe.
(...)
Sexus, de Henry Miller (p.194-197)
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