sábado, 19 de fevereiro de 2011

O imperio dos sentidos

Um dos fundadores da chamada Nouvelle Vague Japonesa, Nagisa Oshima começou no cinema influenciado pelos neorealistas, fazendo filmes-denúncia sobre a pobreza e a delinquência juvenil no Japão das décadas de 60 e 70, quando o país se enriquecia com a ocupação americana e o sucesso do Plano Marshall. O cineasta mostrava assim o outro lado do sucesso capitalista japonês, retratando o povo desatando-se das tradições e perdendo sua cultura milenar.

Com o passar dos anos, seu cinema foi se tornando cada vez mais político e experimental, mas, em 1976, em vista ao consumismo sem freios e do conformismo que se instalou no país, Oshima fez esse clássico do cinema japonês, O Império dos Sentidos, curiosamente um filme enxuto, sem nenhuma firula narrativa ou excessos de câmera, apenas dois personagens se trucidando psicologica e fisicamente em alguns pouco cenários, nesse que é considerado com cinismo como o melhor filme erótico de todos os tempos.

A Criterion Collection acaba de lançar em blu-ray essa pérola do cinema mundial, ainda proibida em seu país de origem (uma versão com cortes foi autorizada), em todo o seu esplendor de imagem e som. Não envelheceu nem um só fotograma essa história da prostituta que, depois de se empregar como empregada numa rica casa, torna-se amante do patrão e com ele fará sexo praticamente sem interrupção até que, atendendo aos pedidos dele, o mata estrangulado. Como lembrança do amante, corta-lhe o pênis e o guarda, até ser finalmente presa semanas depois com a relíquia.

Em sua frieza e realismo, o filme consegue ser profundamente anárquico e contestador – salvo se o expectador preferir ver na obra apenas um filme erótico. A história é verdadeira – a prostituta decapitou a segunda cabeça do amante em 1936 – e Oshima optou por uma absurda neutralidade, recusando mesmo as técnicas de interpretação de teatro japonesas, e filma a escalada da obsessão sexual do casal como se fosse um documentário que Oshima fizera sobre a periferia pobre das grandes cidades do Japão.

Godard, Truffaut e Alain Resnais diziam que sem a nouvelle vague japonesa não teria havido a francesa. Em O Império dos Sentidos estaria os primórdios do amour fou tão caro aos diretores franceses, em que os amantes dão uma banana para as convenções para viver intensamente seus amores. No filme, eles começam de maneira terna, com o corpo dela todo vibrando se em contato com o do amante, que lhe incita a liberar seu desejo. Uma vez no leito, ela canta para o pênis do amante enquanto o acaricia – na cena da felação, podemos ver o jorro de sêmen escorrer pelo canto da boca da atriz, tudo filmado com impecável eficiência.

Depois disso, perdem o controle, de forma que eles não conseguiam se ver sem que ao menos uma penetração ocorresse. Oshima chega mesmo a filmar uma cerimônia do chá que termina em bacanal depois que os amantes começam a fazer sexo em frente aos outros serviçais. "A única maneira de o meu pênis descansar é ir ao banheiro mijar", assevera o patrão. Não se importavam mais de serem vistos, isso quando outros também entravam na roda, como uma velha gueixa que, depois de anos sem ter um orgasmo, não agüenta e tem um ataque mortífero com o patrão ainda dentro dela.

Os amantes partem para os flagelos físicos. Eros e Tanatos liberam-se (não há psicologismos no filme, felizmente) e o patrão pede que ela lhe faça seu desejo de ser estrangulado para ter uma ereção mais forte. Desajeitada, não consegue fazer com a força suficiente no início, mas nada que um pouco de treino não resolvessse e faz o filme terminar como termina – ela usa aquela faixa que as mulheres japonesas usam na cintura dos quimonos para dar cabo do cidadão numa cena longa e diabólica.

Antes disso, cenas fortes, como ela botando o ovo enfiado na vagina pelo amante (ela o obriga a comer depois), ameaças de morte com uma faca, os empregados reclamando do mau cheiro do quarto, a servidora de saquê sendo currada etc. Na cena mais emblemática, uma das poucas externas do filme, as tropas imperiais do Japão caminham pelas ruas com a população lhe dando apoio pouco antes de estourar a Segunda Guerra Mundial, mas o patrão vai em direção contrária, em busca amante para mais uma interminável sessão de sexo exaustivo e devorador.

Após O Império dos Sentidos, Oshima fez O Império da Paixão, em 1979, com o mesmo ator, e venceu melhor diretor em Cannes. Concorreria no mesmo festival com duas obras igualmente fortes: Max, Meu Amor, sobre a mulher que fazia sexo com um macaco, e Tabu (Gohatto), sobre os samurais gays que entravam nas milícias com a clara intenção de matar e fazer sexo. Impossível falar do cinema japonês sem conhecer a obra deste que é um de seus diretores mais combativos.
Por Demetrius Caesar,

Um comentário:

Anônimo disse...

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