domingo, 23 de março de 2008

CORPO





Recuso-me a falar de amor.
Não descrevo mais teus olhos encontrando os meus.
Não palpito em letras meu mamilos
duros, eriçados, quando em mim roças
teus pêlos, tua pele suada.
Não imagino mais curioso a me examinar o rosto, as curvas,
a minha alma nua, despida de mim com teus beijos.

Calo tua língua que me varre vento quente
em meus ouvidos e me rouba gritos e me tira
do sério e me faz crer e todos os mistérios da vida.
Não ! Eu me nego !
mesmo acreditando no meu amor.

Não me inundo mais de letras, palavras-tetas,
não sugo teu falo até minha garganta pedir socorro.
Não tinjo mais o papel-lençol com meu gozo
em desespero. É tedioso cantar a tua língua
morna que vem, torna, vem e me geme
e me treme e me mata aos poucos.

Vou castrar esse desejo impresso
em cada verso morto que não tem teu gosto,
teu cheiro e a delícia do mergulho que tu fazes em mim.
Mutilo cada linha do teu toque na minha página-corpo.
Não quero mais letras-pernas a me entrelaçar de jeito,
a me jogar no leito e me contar segredos
dos teus pontos de desejo.

Não, meu amor, eu denego os beijos cegos editados.
Eu repudio cada estocada dessa lauda-pênis,
mesmo sendo mulher-estrofe, emudeço
de vez o prazer-verso, calo pra sempre a erótica-poesia.

Meu amor, quero teu amor de carne e osso, impressionante,
impresso, colorindo a minha pele,
pra eu não ter a impressão de estar sonhando,
editando o meu amor em copy-desk.

Dead-line, meu bem, vem pra cama, vem


Gueixa

Nenhum comentário: