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porque a saudade espreita e espia e aperta minha carne, gritando teu nome. porque, na minha boca, nada há que não tenha, antes, vindo de ti. porque eu viro noites revirando a lembrança da tua língua alterando a minha percepção, a minha porção. intumescimento. porque meus poros se arrepiam e dilatam e crescem, na tentativa de alcançar você de volta. porque a reviravolta que a vontade de ti faz no meu corpo, explode em meu peito, que lateja e palpita e pulsa rápido, certeiro, implacável e acusador. porque molho travesseiros e lençóis e coxas na esperança de ter você de novo sobre o meu quadril. porque tenho febre e desespero de causa e de efeito. alta temperatura, alta voltagem. curto-circuito no vazio dos meus braços, no vão das minhas pernas. porque praias e mares e oceanos não me umedeceriam tanto quanto a tua rigidez convicta e insolente. porque eu deságuo meu sal e suor e mel pra destilar teu vácuo que cresce na mesma medida do meu desejo: fátuo, petulante e pretensioso. porque quando fecho os olhos, tua distância me assalta e rouba todos os meus sonhos. leva-os até você e deixa em troca teu cheiro cravado na minha derme: deleite e doçura, dureza e rudez. porque quando abro os olhos, tua ausência reflete toda a minha liquidez, todas as águas minhas, todo o meu mergulho na tua nostalgia, toda a fantasia da minha avidez que é crua, é nua e é tua. canibalismo. te comer entrelinhas e saciar a fome das minhas entranhas. porque tateio minha doença na esperança de que voltes e me salve. porque ainda és meu óleo e minha benção. minha cura. minha unção.
Elise
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