quarta-feira, 28 de maio de 2008

Do sexual e do religioso

"Quanto ao facto de saber se o sexual e o religioso são antagónicos e opostos, eu responderia do seguinte modo: todos os elementos ou aspectos da vida, por muito pobres, por muito duvidosos que sejam (para nós), são susceptíveis de conversão, e na verdade devem ser transpostos para outro nível, de acordo com a nossa maturidade e inteligência. O esforço visando eliminar os aspectos "repugnantes" da existência, que é a obsessão dos moralistas, não só é absurdo, como fútil. É possível ser-se bem sucedido na repressão dos pensamentos e desejos, dos impulsos e tendências feios e "pecaminosos", mas os resultados são manifestamente desastrosos. (É estreita a margem que separa um santo e um criminoso.) Viver plenamente os seus desejos e, ao fazê-lo, modificar subtilmente a natureza destes, é o objectivo de todo o indivíduo que aspira a desenvolver-se. Mas o desejo é soberano e inextirpável, mesmo quando, como dizem os budistas, se converte no seu contrário. Para alguém se poder libertar do desejo, tem de desejar fazê-lo.
Trata-se de um tema que sempre me interessou profundamente. Na minha juventude, é já depois disso, fui vítima de movimentos impulsivos, perfeitamente incontroláveis. Ultimamente, na sequência de um período prolongado de intensa actividade criadora, tem-me impressionado mais do que nunca o pântano de ideias em que se atola o modo tradicional de tratar este tema.

Henry Miller- O MUNDO DO SEXO

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