sábado, 17 de maio de 2008

Trópico de Câncer fragmento 17






" Havia um não-sei-quê na sua eloquência, naquele momento, e na maneira como me chegou o roseiral (os petelhos) ao nariz que permaneceu inesquecível. Falava da coisa como se fosse um objecto independente que comprara por elevado preço, um objecto cujo o valor aumentara com o tempo e que ela avaliava acima de tudo no Mundo. As suas palavras imbuíam-na de uma fragância especial; já não se tratava apenas do seu órgão íntimo e sim de um tesouro, de um tesouro mágico e poderoso, de uma coisa dada por Deus - e que não deixava o ser, nem o era menos, pelo facto de ela a comerciar todos os dias a troco de umas moedas de prata. Quando se atirou para cima da cama, de pernas abertas envolveu-a com ambas as mãos e afagou-a mais um bocadinho, enquanto murmurava, com a sua voz rouca,de cana rachada, que era boa, bonita, um tesouro, um lindo tesourinho. (...)"

Henry Miller

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