segunda-feira, 19 de maio de 2008

O cheirador de calcinhas

Lá estavam aquelas duas calcinhas minúsculas e rendadinhas, penduradas inocentemente no box do banheiro dela, pensou: “Vou roubar essas calcinhas”.
(...) casado. (...)estava com a mulher, na casa de uma amiga da mulher. Pediu licença para ir ao banheiro. Foi. Então deparou com as pequenas peças de renda delicada e suave tecido de algodão. Imaginou a bela amiga da mulher inserida numa daquelas sumárias calcinhas, (...) e estremeceu. Tomou uma delas.
De tão diminuta, a calcinha sumiu em seu punho fechado, sentiu-lhe a meiga textura na palma da mão, apertou-a, afofou-a, esticou-a e, por fim, levou-a ao rosto. Aspirou com a boca e o nariz o perfume, gemeu baixinho e, trêmulo e ofegante, enfiou-a no bolso. Repetiu a operação com a segunda calcinha. Meteu-a no outro bolso.
Roubá-las-ia, sim!, para sorvê-las em casa, descansado.
Meu amigo suava. Mirou-se no espelho.
Não! Ele não podia fazer aquilo.
Pendurou-as de novo no box. Suspirou. Virou-se para sair do banheiro. Lá estavam. Tão pequetitinhas… Suspirou outra vez. Por que não dar uma nova cheiradinha?
Esfregou-a no rosto, sofregamente, Fungou, fungou. Pensou. E a enfiou no bolso. “De uma só ela não vai sentir falta”. Mas ao chegar à sala, as mulheres, porém, sequer lhe deram atenção.
No caminho de volta para casa, a mulher percebeu sua inquietação.
— Algum problema? - perguntou ela.
— Não, nada…
No dia seguinte, ele levou a calcinha para o trabalho.
“Vou cheirá-la todos os dias”.
Aí o telefone tocou.
Era ela.
A dona da calcinha roubada.
— Tu tens algo que me pertence.— Estou sem ela. E a quero de volta. Agora. Aqui. Foi à casa dela, devolveu-lhe a calcinha e começou um caso ardente que já dura meses. Meses de felicidade, é importante que se diga.
(...)

David Coimbra

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