quinta-feira, 8 de maio de 2008

Trópico de Câncer, trecho de






(...)
quando olho pra dentro dessa boceta fodida de puta sinto o mundo inteiro embaixo de mim, um mundo vacilante demoronante, um mundo gasto e polido como um crânio de um leproso. Se houvesse um homem que ousasse dizer tudo quanto pensa deste mundo, não lhe restaria um palmo quadrado de terra pra ficar. Quando um homem assim aparece, o mundo cai sobre ele e quebra-lhe a espinha. Restam sempre em pé pilares apodrecidos demais, humanidade supurada demais para que o homem possa florescer. A superestrutura é uma mentira e o alicerce é um medo enorme e trêmulo. Se com intervalos de séculos aparece um homem de olhar desesperado e faminto, um homem que vira o mundo de cabeça pra baixo a fim de uma nova raça, o amor que ele trás ao mundo é transformado em fel e ele se torna um perigo. Se de vez em quando encontramos páginas que explodem , paginas que ferem e queimam, que arrancam gemidos, lágrimas e pragas, sabemos que elas prôvem de um homem com as costas na parede, um homem cujas unicas defesas restantes são suas palavras e suas palavras são sempre mais forte que o peso mentiroso e enganador do mundo, mais fortes que todos os ecúleos e rodas que os covardes inventam para esmagar o milagre da personalidade. Se algum homem ousasse traduzir tudo quanto há em seu coração, expressar realmente tudo o que é sua experiencia, o que é realmente sua verdade, penso que o mundo se despedaçaria, que se reduziria a pedacinhos e nenhum deus, nenhum acidente, nenhuma vontade poderia jamais reunir novamente os pedaços, os átomos, os elementos indestrutíveis que entraram na formação do mundo (...)



Henry Miller

Um comentário:

VERTIGO disse...

Grande Miller!!!

.VERTIGO.